sábado, 31 de maio de 2014

Honduras, da guerra à paz

 Seleção de Honduras em 1982 (Foto: Seven Simon, Revista Placar, no.625, de 14 de maio de 1982)

A primeira recordação em relação ao futebol hondurenho está relacionada ao triste episódio que ficou conhecido como “guerra do futebol”, ocorrida em 1969 entre Honduras e El Salvador.

Naquele ano, os países eram governados por militares que enfrentavam sérias dificuldades econômicas e políticas. Acusando o vizinho de ocupação de suas terras, o governo hondurenho passou a expulsar milhares de camponeses salvadorenhos, agravando ainda mais tensão entre ambos. No meio desse caldeirão político, as seleções de seus países chegavam à disputa final das eliminatórias para a Copa a ser disputada no México no ano seguinte.

No primeiro jogo, em Tegucigalpa (capital da Honduras), diante de forte pressão da torcida local, Honduras ganhou por 1 x 0 com gol no último minuto. Logo após a partida, uma salvadorenha não aguentou a humilhação e se suicidou, causando grande comoção nacional. Na semana seguinte, em San Salvador, os salvadorenhos foram à forra, pressionaram de tudo quanto é jeito e acabaram ganhando de 3 x 0, forçando a realização de um jogo extra. Após esse jogo, dois torcedores hondurenhos foram mortos outras dezenas acabaram hospitalizados.

Na disputa pela vaga, no México, com os ânimos pra lá de exaltados, Honduras perdeu na prorrogação por 3 x 2, deixando a vaga para El Salvador. Imediatamente a fronteira entre ambos países foi fechada e a guerra foi declarada. O conflito durou cerca de uma semana e morreram ente 4000 e 6000 pessoas (o número de mortos varia dependendo da fonte consultada). Embora conhecida como “A guerra do Futebol”, ao que parece o futebol não foi a causa, mas sim serviu de pretexto para acirrar as rivalidades entre suas populações. Há até uma música local sobre o conflito: https://www.youtube.com/watch?v=TcATRFMRpaQ.

Para saber mais, vale a pena consultar o livro do polonês Ryszard Kapuscinski, “A Guerra do Futebol” (http://livraria.folha.com.br/livros/grandes-reportagens/guerra-futebol-ryszard-kapuscinski-1011874.html).  E um documentário interessante pode ser visto aqui: https://www.youtube.com/watch?v=NWsLerZLFX8

Doze anos depois desse conflito, Honduras e El Salvador se classificaram para a Copa do Mundo de 82, disputada na Espanha. Um dia após a seleção salvadorenha estrear com uma acachapante derrota de 10 x 1 diante da Hungria (recorde de goleada na história da Copas), Honduras entrou em campo para enfrentar a seleção dona da casa. Para muitos, seria um jogo tranquilo para a Espanha, com expectativa de goleada. Entretanto, com a bola rolando, o que se viu foi um jogo equilibrado com a seleção quase amadora da América Central abrindo o placar no primeiro tempo com Zelaya e segurando o placar com ótima atuação do goleiro Arzu. O empate espanhol veio só no 2º tempo com um pênalti duvidoso e o jogo ficou no 1 x 1. Vale a pena conferir esse jogo: https://www.youtube.com/watch?v=_rbhQE7PWRk

Na segunda rodada, a Honduras ficou em novo empate em 1 x 1 frente à Irlanda do Norte, deixando a definição do grupo para a última rodada quando o acabou levando um gol decisivo em um pênalti aos 43 min do 2º tempo contra a Iugoslávia. Com a derrota e a eliminação, muitos jogadores hondurenhos que brilharam em campo caíram no choro.

A seleção hondurenha retornou à Copa somente em 2010, novamente após passar por um período político tenso com a destituição em 2009 (ou golpe de Estado, dependendo do ponto de vista) de outro Zelaya, então presidente (não confundir com o Zelaya autor do gol contra a Espanha). Na Copa de 2010, foram duas derrotas e um empate e nova eliminação na primeira fase.

Agora, retorna à sua terceira Copa em um momento político mais tranquilo e em paz com o vizinho El Salvador. Resta saber se isso será suficiente para que consiga sua primeira vitória em Copas do Mundo, o que já seria um feito a ser celebrado em Tegucigalpa.





quarta-feira, 28 de maio de 2014

Equador e o pequeno Maracanazo


Eram quatro seleções disputando apenas uma vaga. O Brasil chega ao jogo decisivo após duas vitórias tranquilas enquanto o adversário, uma seleção sulamericana, tinha um empate e uma vitória apertada e somente ficaria em primeiro se ganhasse do Brasil em pleno Maracanã. A seleção brasileira, confiante, sai na frente, mas leva a virada, perde a primeira colocação e é eliminada.

Se você está pensando no Uruguai na Copa de 1950, errou. Estou falando aqui da seleção do Equador no Panamericano de 2007, que surpreendeu os donos da casa, ficou com a vaga, seguiu adiante e acabou conquistando a medalha de ouro.

Tudo bem que no Panamericano a competição não envolve os times principais, mas sim seleções sub-17. De qualquer forma, não deixa de ser futebol. E talvez tenha sido uma das maiores conquistas da seleção do Equador, ainda mais considerando o contexto (jogo no Maracanã contra o Brasil).

E eu estava lá naquele dia. A foto que ilustra este post foi tirada por mim mesmo, através de um celular simples cujas fotos não tinham resoluções muito boas, mas serve como lembrança. Estava querendo assistir alguma competição do Panamericano, mas como decidi em cima da hora, só me restou ingressos para o futebol. O Maracanã estava reformado, bonito e mesmo sem ser a seleção principal, tinha um astral legal. E o estádio ainda ostentava a tocha olímpica acessa na altura da linha do meio-de-campo, lembrando que era uma competição válida pelo Panamericano, no local onde tinha ocorrido a festa de abertura.

Jogando com revelações como Maicon (Fluminense), Alex Teixeira (Vasco) e Lulinha (Corinthians), o Brasil ainda saiu na frente, mas acabou levando a virada e perdeu por incríveis 4 x 2.  Pode-se dizer que, guardadas as devidas proporções, foi um “pequeno Maracanazo” [1].

Um ano depois, um time equatoriano (LDU) repetiu o feito no Maracanã ao conquistar a Libertadores vencendo o Fluminense nos pênaltis, dando mais uma prova da evolução do futebol equatoriano.

De fato, ainda que o Equador permaneça como zebra nas principais competições mundiais, é inegável que no futebol esteja em plena ascensão. Basta lembrar que depois de décadas, chegou a sua primeira Copa somente em 2002, mas repetiu o feito em 2006, quando conseguiu se classificar brilhantemente na fase de grupos ao derrotar Polônia e Costa Rica, caindo apenas nas oitavas frente à Inglaterra. Pode parecer pouco, mas foi suficiente para ser recebida com festa ao retornar para casa. 

Depois de não conseguir vaga em 2010, o Equador retorna agora à Copa do Mundo, mas talvez um pouco abalado pela morte de um dos seus principais jogadores no ano passado: Chrstian “Chucho” Benítez. Logo após ter jogado sua primeira partida pelo Al Jaish, do Catar, vindo de temporadas brilhantes no América-MEX, enfrentou problemas de saúde e faleceu com uma parada cardíaca. Vejam alguns gols dele:


Para a Copa do Mundo de 2014 resta ao Equador, além do luto por Chucho e as apostas em jogadores como Caicedo, Noboa e Enner Valencia, a esperança de surpreender novamente no Brasil, principalmente considerando que fará a 3ª (que poderá ser decisiva) partida contra a França justamente no Maracanã. Resta saber se este retrospecto será suficiente para que ocorra um novo “Maracanazo”, agora em versão francesa.  

[1] Maracanazo: termo usado em referência à vitória do Uruguai contra o Brasil no jogo que decidiu a Copa do Mundo de 1950, resultado que surpreendeu a todos que esperavam a vitória tranquila da seleção brasileira e o título daquele ano.

FICHA TÉCNICA DO JOGO:  BRASIL 2 X 4 EQUADOR 
Estádio: Estádio do Maracanã, Rio de Janeiro (RJ), data/hora: 21/7/2007 - 15h (de Brasília)
Árbitro: Pablo Lunati (ARG); Auxiliares: Juan Rebollo (ARG) e Patricio Basualdo (CHI) 
Cartões amarelos: Chango (31'/1ºT) e Banguera (29'/2ºT) (ECU); Fellipe (13'/2ºT) (BRA) 
Cartão vermelho: Rafael Forster (25'/2ºT) (BRA)
GOLS: Junior (37'/1ºT) e Alex Teixeira (26'/2ºT) (BRA); Chasi (45'/1ºT), Zura (2'/2ºT), Montero (17'/2ºT) e Ochoa (41'/2ºT) (EQU).
BRASIL: 1-Marcelo, 2-Rafael (15-Bruno Collaço, 43'/2ºT), 6-Fabio Silva (C), 13-Lazaro, 14-Rafael Forster, 8-Giuliano, 7-Fellipe (17-Choco, 18'/2ºT), 10-Lulinha, 9-Maicon, 11-Alex Teixeira, 18-Junior (16-Tales, 12'/2ºT). 

EQUADOR: 1-Maximo Banguera, 2-Wilson Folleco, 3-Deison Mendez, 4-Roberto Castro, 6-Hamilton Chasi, 13-Carlos Delgado (11-Fabricio Guevara, 44'/2ºT), 16-Israel Chango, 5- Jefferson Pinto, 8-Jefferson Montero (7-Jesus Alcivar, 41'/2ºT), 17-Fidel Martinez, 9-Edmundo Zura (C) (18-Pablo Ochoa, 33'/2ºT). 

terça-feira, 27 de maio de 2014

Suíça, de chocolates e contradições

Rappan (técnico da Seleção Suíça entre os anos 30 e 60) 

Um dos principais países responsáveis pela difusão do futebol na Europa continental no início do século XX (fundaram, por exemplo, a Internazionale de Milão), os suíços estão entre os fundadores da Fifa em 1904, cuja sede fica em Zurique. Como se não bastasse, o atual presidente da Fifa, Joseph Blatter, é suíço. Entretanto, tal importância fora das quatro linhas não se reflete dentro de campo, cujos resultados estão bem abaixo do que se poderia esperar de um país com tamanha importância política no futebol.

Chegando a sua 10ª Copa, até hoje seu maior legado não foi nenhuma grande conquista ou craques memoráveis, mas sim a introdução da tática defensivista conhecida como “Ferrolho Suíço”.

Diria o filósofo  suíço Jean Jacques Rosseau em O Contrato Social: “o homem nasce livre e em toda parte encontra-se sob ferros”[1]. Talvez esse pensamento tenha servido de inspiração para Karl Rappan, técnico austríaco que dirigiu a Suíça nas Copas de 1938, 54 e 62, considerado o pai do “ferrolho suíço”. A tática consistia em concentrar jogadores no campo de defesa na tentativa de impedir o adversário de chegar ao gol, deixando apenas de um a três jogadores do meio pra frente para eventuais contra-ataques. Esse esquema foi a forma encontrada pelo técnico para poder enfrentar seleções tecnicamente mais fortes. Jogando assim, sua seleção conseguiu alguns resultados expressivos, como eliminar a forte seleção da Alemanha da Copa de 1938.

A identidade da seleção suíça com esse esquema foi tamanha que, mesmo quando o treinador era outro, o esquema adotado manteve-se o mesmo. Foi assim que, em 1950, quando dirigida por Franco Andreoli, empatou com o Brasil na primeira fase da Copa do Mundo (2 x 2 no Pacaembu),  e também entre as Copas de 2006 e 2010 quando estabeleceu o recorde de 551 minutos sem tomar gols. Atualmente é a seleção responsável pela última derrota do Brasil. Veja o gol aqui:

Na Copa de 2006, “conseguiu” a proeza de ser eliminada nas oitavas sem tomar um gol sequer em quatro jogos (a eliminação veio com a derrota na disputa por pênaltis contra Ucrânia após empate sem gols).  Na última edição da Copa do Mundo, se por um lado conseguiu vencer a Espanha (que viria a sagrar-se campeã) por 1 x 0 na primeira rodada, por outro lado não conseguiu sair do 0 x 0 contra a Honduras na última rodada da 1ª fase e acabou eliminada.

Considerando que esse esquema defensivista passou a fazer parte da identidade da seleção suíça, seria certo supor que seus jogos sempre terminassem com poucos gols, certo?

Errado. Assim como a seleção atual da Suíça é repleta de estrangeiro (oito dos 11 titulares são imigrantes) e mesmo assim a sua população votou pela restrição a imigração em fevereiro deste ano, dentro de campo historicamente também encontramos contradições semelhantes:  na história das Copas, o jogo com maior número de gols foi justamente quando esta seleção enfrentou a Áustria e perdeu de 7 x 5 (ainda teve um pênalti perdido) em 1954, justamente na Copa disputada em casa, que aliás alcançou a incrível média de 5,4 gols por partida. Vale a pena conferir os gols deste jogo:

Ou seja, além de contribuir para um jogo específico repleto de gols, o belo território suíço acabou servindo de palco para um verdadeiro festival de gols. Um espetáculo não aos ouvidos, mas principalmente aos olhos dos espectadores. 


[1] ROSSEAU, Jean-Jacques. Do Contrato Social.

domingo, 25 de maio de 2014

Grécia, dos filósofos ao futebol.

Foto: portal Uol

Berço do teatro e dos jogos olímpicos, no futebol até a década de 1990 seu maior momento era este jogo de filósofos interpretado brilhantemente pelo Monty Python:

Falando sério, o fortalecimento dos seus principais times ocorreu a partir de 1922 com o fim da guerra com os turcos que resultou em grande troca de populações. Nesse momento, o futebol foi utilizado como ferramenta de integração entre os novos habitantes na região de Atenas através de criação de clubes como, por exemplo, o tradicional AEK, cuja sigla vem de União Atlética de Constantinopla (antigo nome de Istambul). Em termos continentais, o melhor resultado de seus times foi o vice-campeonato do Panathinaikos na Copa dos Campeões (atual Liga dos Campeões) em 1971 (o Ajax da Holanda foi campeão).

Com relação à seleção, entretanto, já obteve resultados melhores. A beira de iniciar apenas sua terceira participação em Copas do Mundo (esteve presente antes em 1994 – quando ficou em último lugar - e 2010), a esperança reside em repetir o feito continental de 2004 quando, de forma surpreendente, conquistou a Eurocopa ganhando de Portugal na final (que já contava com Cristiano Ronaldo) em pleno Estádio da Luz em Lisboa. Para acompanhar a surpreendente campanha, veja:

Passado o momento de euforia pela conquista, a Grécia fracassou na tentativa de se classificar para a Copa de 2006, mas conseguiu obter a vaga para a Copa de 2010, quando, novamente eliminada na 1ª. fase, teve como consolação o fato de ter conquistado seus primeiros pontos (e marcar seus primeiros gols) em Copas ao vencer a equipe da Nigéria por 2 x 1. Ou seja, chega agora a sua terceira Copa para tentar pelo menos passar da 1ª. fase (enfrenta Colômbia, Japão e Costa do Marfim), fato que certamente seria celebrado como uma conquista.

No ano passado, enquanto o selecionado grego conseguia, a duras penas, obter a classificação para a Copa de 2014 ao superar a Romênia na repescagem (https://www.youtube.com/watch?v=cuK7hulobZg),  um músico britânico da Universidade de Oxford, Armand D'Angour,  divulgou que estava conseguindo recriar músicas gregas compostas entre  750 e 400 a.C. a partir de letras originais e instrumentos usados na época. Escute aqui o resultado:


Desse modo, pode-se dizer que tal como conseguiram reproduzir canções gregas antigas, para a Copa do Mundo de 2014 seria necessário reproduzir os resultados conquistados na Eurocopa de 2004. O problema é que, para isso, precisará apostar não em competentes pesquisadores de Oxford, mas em seus próprios jogadores, como Kostas Katsouranis, Karagounis ou Salpingidis (remanescentes da conquista histórica de dez anos atrás) ou ainda no atacante Mitroglou, autor do gol da classificação no ano passado. Tarefa difícil, mas como diria o filósofo grego Epíteto: “Se o problema possui solução não devemos nos preocupar com ele. E se não possui solução, de nada adianta nos preocuparmos”. Bola pra frente, Grécia!

sábado, 24 de maio de 2014

Inglaterra, capital Liverpool


Mais conhecida por ser a cidade dos Beatles e pela importância de seu porto no comércio internacional de escravos no século XVIII, a cidade de Liverpool é também a que mais cedeu jogadores para a seleção inglesa que virá para o Brasil disputar a Copa do Mundo. Entre os 23 convocados para a Copa do Mundo de 2014, oito jogam em um dos times da cidade (cinco do Liverpool e três do Everton).

E em uma cidade com essa importância no mundo do futebol e da música, nada mais natural  que haja constante interação entre ambos. Embora os Beatles sempre fossem muito discretos em relação ao futebol, consta que Paul Mccartney seria torcedor do Everton (conhecido como Toffees), sem grande fanatismo a ponto de manifestar simpatia pelos dois times em entrevistas a respeito. Recentemente, “Sir” Paul Mccartney concedeu uma entrevista ao jogador uruguaio Luís Suarez (que joga no Liverpool) e no final termina simulando o grito da torcida do Liverpool, mas puxa um “Everton” para encerrar (ainda que de forma discreta e simpática, como um verdadeiro “Sir” que é). Vale a pena conferir essa entrevista aqui:

Ja a torcida do Liverpool  (conhecido como Reds) notabilizou-se por, além de ser uma das mais fanáticas do mundo, ter como um dos principais cantos desde a década de 1960 “You’ll never walk alone”, composta por Richard Rodgers e Oscar Hammerstein II para o musical “Carousel” em 1945. Esse canto entoado nos estádios em dia de jogo é tão vibrante que inspirou o Pink Floyd a inserir como música incidental  em “Fearless”, canção que fez parte do disco Meddle de 1971. Vale a pena conferir (no início, e a partir do minuto 5:00). Sensacional. Lembro que quando eu era criança, gostava de escutar essa música enquanto jogava futebol de botão para ambientar o estádio.

Essa canção adquiriu tal identidade com o Liverpool que foi parar no escudo do time e se encontra gravada sobre o portão de seu memorável estádio Anfield. Curiosamente o Anfield foi a casa do rival Everton entre 1884 (ano de sua inauguração) e 1892, quando optou por sair de lá devido ao alto valor de aluguel cobrado por John Houlding que, sem time para jogar, acabou fundando o Liverpool.

Momento marcante na final da Liga dos Campeões de 2005, quando o então poderoso Milan terminou o 1º tempo vencendo por 3 x 0 o Liverpool em Instabul. No retorno para o 2º tempo, ao contrário do que se poderia imaginar, a torcida do Liverpool calou a do Milan enquanto cantava “You’ll Never Walk Alone”, emocionando seus próprios jogadores que, tirando forças sabe-se lá de onde, reagiram de forma espetacular, conseguiram o empate, levaram a decisão para os pênaltis e faturaram o título. O clip abaixo mostra momentos desse jogo, iniciando e finalizando com a torcida cantando.


Diante disso, mesmo com time jovem, mesclando com alguns jogadores próximos ao final da carreira como Steven Gerard (do Liverpool), acho bom seus adversários não menosprezarem o poder dessa torcida para levar à seleção a vitórias. Esses jogadores sabem que “nunca caminharão sozinhos”.

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Colômbia: do tango à tragédia!


Resolvi iniciar a série relacionada às seleções que se classificaram para a Copa do Mundo com a Colômbia, que terei a oportunidade de assistir ao vivo dia 19 em Brasília contra Costa do Marfim.
Certamente será impossível ver a seleção colombiana atual e não lembrar daquela que teve nos anos 90 o seu auge.  Dizia Francisco Maturama,  seu técnico naquela época, que “futebol é música. É uma questão de suingue. Vi treinadores que no momento de recrutar jovens, em primeiro lugar pediam-lhes para dançar. Eles pensavam que aqueles que dançassem melhor exprimiriam maior habilidade, e acho que tinham razão”. [1]
Esse espirito do técnico tinha, de fato, reflexo naquela seleção que efetivamente jogava por música e alcançou o auge em setembro de 1993 nas eliminatórias, quando em uma atuação magnifica, coroou sua participação ao golear a Argentina em pleno Monumental de Nunez (estádio do River Plate em Buenos Aires), carimbando seu passaporte e empurrando o adversário à repescagem. Foi um verdadeiro espetáculo colombiano na terra do Tango. Apesar da imagem não estar boa, vale a pena conferir os gols daquele jogo com a empolgação do narrador colombiano - que não acreditava no via - alternando com a total perplexidade do narrador argentino:
A animação com tal feito foi tanta que nas comemorações na Colômbia morreram 70 pessoas e mais de 1.500 ficaram feridas. Sem que ninguém percebesse, talvez esta tragédia tenha sido um presságio do que viria a acontecer meses depois.  
Respaldada pela excelente eliminatória e contando com a sua melhor geração de jogadores, com Asprilla, Rincón, Valderrama, Valência, Córdoba, a seleção colombiana chegou à Copa com pinta de grande surpresa. Mais do que isso, Pelé, por exemplo, chegou a apostar que seria campeã.   
Entretanto, na Copa, em um grupo que se mostrou bastante equilibrado, acabaram eliminados ainda na primeira fase após derrotas para a boa seleção da Romênia (outra que chegou com uma de suas melhores gerações na história) e EUA. A vitória na última rodada frente à Suíça não a salvou da eliminação precoce.
Para piorar, dias após retornar para Colômbia, Escobar, o zagueiro que por uma imensa infelicidade tinha feito gol contra no jogo contra os EUA, acabou assassinado, muito provavelmente a mando de algum apostador que tinha perdido muito com a derrota da sua seleção (apesar de terem capturado o assassino, ele não esclareceu as causas).
Ou seja, em questão de meses, aquela seleção que marcou época foi da consagração na terra do tango para a tragédia total.
Pensando nisso,  assim que a Colômbia garantiu a volta  à Copa do Mundo, fizeram uma campanha no mínimo curiosa no país vizinho, pedindo ao Pelé  - pé frio famoso - que, dessa vez, não aposte na Colômbia. Vale a pena conferir:

E esperar que essa nova geração da Colômbia consiga confirmar a previsão do seu famoso técnico, estreitando a relação entre futebol e música no que há de melhor nisso tudo.

[1] FRANCO JÚNIOR, Hilário. in A Dança dos Deuse - Futebol, Sociedade, Cultura, p. 225, 2007.

Tom Jobim e o futebol

Antes de iniciar a série sobre as seleções da Copa do Mundo de 2014, vou relembrar episódios de música relacionadas a futebol a título de introdução do Blog Futebol Sonoro. 
Há algum tempo fui assistir a um show de grupos vocais no Sesi do Portão, em Curitiba. Na época, todas as quintas-feiras tinham shows desse tipo e o ingresso foi um agasalho para doação.
Tratava-se de um programa diferente e o repertório era composto basicamente por clássicos da mpb e bossa nova. O primeiro grupo a se apresentar foi o Fino Trato, composto por quatro vozes. Em seguida foi a vez de um grupo maior denominado Pano pra Manga.
Foi quando reparei que uma música do Tom Jobim (até ele) que relaciona, ainda que de leve, o velho esporte bretão. Trata-se de “Falando de Amor”, uma bela canção em que o maestro Tom em mais uma declaração de amor, diz que pelo seu amor, até esquece do futebol.
Fiquei na dúvida se essa música era válida para colocar no blog, já que no caso, refere-se ao futebol como algo esquecido diante da garota. Mas acho que a título introdutório dessa nova fase do Blog e considerando que, era o "Tom Jobim" que estava falando de futebol, então resolvi que seria válido.
Procurando no youtube, essa maravilha da internet, encontrei esse vídeo genial com Tom e Chico juntos gravando essa música: https://www.youtube.com/watch?v=3mIvdzqrpXU
Junto com o Chico, o verso passa a ter um peso maior, já que ele, ao contrário do Tom, é de fato um apaixonado por futebol. Vale a pena conferir.

Segue a letra dessa bela canção:

Se eu pudesse por um dia
Esse amor, essa alegria
Eu te juro, te daria
Se pudesse esse amor todo dia
 Chega perto, vem sem medo
Chega mais meu coração
Vem ouvir esse segredo
Escondido num choro canção
Se soubesses como eu gosto
Do teu cheiro, teu jeito de flor
Não negavas um beijinho
A quem anda perdido de amor
Chora flauta, chora pinho
Choro eu o teu cantor
Chora manso, bem baixinho
Nesse choro falando de amor
Quando passas, tão bonita
Nessa rua banhada de sol
Minha alma segue aflita
E eu me esqueço até do futebol
Vem depressa, vem sem medo
Foi pra ti meu coração
Que eu guardei esse segredo
Escondido num choro canção

Lá no fundo do meu coração

Introdução


O objetivo desse blog é resgatar o conteúdo de outro que estava localizado no portal Terra entre 2005-2008 e que, infelizmente, foi tirado do ar devido ao encerramento do portal em relação à hospedagens de Blog.
Com a proximidade da Copa do Mundo, a partir de amanhã o espaço será dedicado a resgatar interessantes histórias relacionadas às seleções participantes. O foco não será apresentar estatísticas nem nada assim, já que isso pode ser encontrado em qualquer lugar, mas sim episódios mais simbólicos e marcantes.