A primeira recordação em relação ao
futebol hondurenho está relacionada ao triste episódio que ficou conhecido como
“guerra do futebol”, ocorrida em 1969 entre Honduras e El Salvador.
Naquele ano, os países eram governados
por militares que enfrentavam sérias dificuldades econômicas e políticas. Acusando
o vizinho de ocupação de suas terras, o governo hondurenho passou a expulsar
milhares de camponeses salvadorenhos, agravando ainda mais tensão entre ambos.
No meio desse caldeirão político, as seleções de seus países chegavam à disputa
final das eliminatórias para a Copa a ser disputada no México no ano seguinte.
No primeiro jogo, em Tegucigalpa
(capital da Honduras), diante de forte pressão da torcida local, Honduras
ganhou por 1 x 0 com gol no último minuto. Logo após a partida, uma
salvadorenha não aguentou a humilhação e se suicidou, causando grande comoção nacional.
Na semana seguinte, em San Salvador, os salvadorenhos foram à forra,
pressionaram de tudo quanto é jeito e acabaram ganhando de 3 x 0, forçando a
realização de um jogo extra. Após esse jogo, dois torcedores hondurenhos foram mortos
outras dezenas acabaram hospitalizados.
Na disputa pela vaga, no México, com
os ânimos pra lá de exaltados, Honduras perdeu na prorrogação por 3 x 2,
deixando a vaga para El Salvador. Imediatamente a fronteira entre ambos países
foi fechada e a guerra foi declarada. O conflito durou cerca de uma semana e
morreram ente 4000 e 6000 pessoas (o número de mortos varia dependendo da fonte
consultada). Embora conhecida como “A guerra do Futebol”, ao que parece o
futebol não foi a causa, mas sim serviu de pretexto para acirrar as rivalidades
entre suas populações. Há até uma música local sobre o conflito: https://www.youtube.com/watch?v=TcATRFMRpaQ.
Para saber mais, vale a pena
consultar o livro do polonês Ryszard Kapuscinski, “A Guerra do Futebol” (http://livraria.folha.com.br/livros/grandes-reportagens/guerra-futebol-ryszard-kapuscinski-1011874.html).
E um documentário interessante pode ser
visto aqui: https://www.youtube.com/watch?v=NWsLerZLFX8
Doze anos depois desse conflito, Honduras
e El Salvador se classificaram para a Copa do Mundo de 82, disputada na
Espanha. Um dia após a seleção salvadorenha estrear com uma acachapante derrota
de 10 x 1 diante da Hungria (recorde de goleada na história da Copas), Honduras
entrou em campo para enfrentar a seleção dona da casa. Para muitos, seria um
jogo tranquilo para a Espanha, com expectativa de goleada. Entretanto, com a
bola rolando, o que se viu foi um jogo equilibrado com a seleção quase amadora da
América Central abrindo o placar no primeiro tempo com Zelaya e segurando o
placar com ótima atuação do goleiro Arzu. O empate espanhol veio só no 2º tempo
com um pênalti duvidoso e o jogo ficou no 1 x 1. Vale a pena conferir esse
jogo: https://www.youtube.com/watch?v=_rbhQE7PWRk
Na segunda rodada, a Honduras
ficou em novo empate em 1 x 1 frente à Irlanda do Norte, deixando a definição
do grupo para a última rodada quando o acabou levando um gol decisivo em um
pênalti aos 43 min do 2º tempo contra a Iugoslávia. Com a derrota e a
eliminação, muitos jogadores hondurenhos que brilharam em campo caíram no
choro.
A seleção hondurenha retornou à
Copa somente em 2010, novamente após passar por um período político tenso com a
destituição em 2009 (ou golpe de Estado, dependendo do ponto de vista) de outro
Zelaya, então presidente (não confundir com o Zelaya autor do gol contra a
Espanha). Na Copa de 2010, foram duas derrotas e um empate e nova eliminação na
primeira fase.
Agora, retorna à sua terceira
Copa em um momento político mais tranquilo e em paz com o vizinho El Salvador.
Resta saber se isso será suficiente para que consiga sua primeira vitória em
Copas do Mundo, o que já seria um feito a ser celebrado em Tegucigalpa.